quinta-feira, 12 de abril de 2012

Há tanta delicadeza nos finais das tardes de outono, que quando o sol encerra o seu expediente, caminho em direção à paisagem que quero reter e enviar pra você em pensamento, como quem embrulha um presente. (Mas me desconcerto toda quando a onda lambe a rocha: é sensual demais, não há como não lembrar a tua boca).

E o dia se despede suave feito um colo. E o verde intenso da mata que se aproxima a cada passo meu, dispensa outras harmonias. (Mas me desconcentro inteira quando vejo a ave mergulhando em captura: impossível não lembrar os apetites teus).

Segura entre as mãos, então, esta cena: agora uma onda ergue-se lentamente, numa letargia fascinante, parecendo desinteressar-se pelo próprio movimento. Vagarosa, curva-se como que num espreguiçar até que seja possível ver com tranqüilidade a parede de água que se forma lisa de tão esticada, antes da debruçada repentina sobre a areia. (Você perceberia dentro deste mesmo tempo).

No meio disso tudo, uma saudade indiscreta da tua cara de insônia pelas manhãs. (Por não dormirmos juntos esta noite, a noite já cai farta de si mesma). E eu fico toda lamentosa de saudade sem tristeza, querendo reclamar da nostalgia...
Mas só consigo agradecer por você ser real... me dá tanta alegria!

Marla de Queiroz


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