quinta-feira, 31 de maio de 2012

E ela continua com um ar arrogante, se sentindo a ultima batatinha crocante do pacote. Continua insistindo em tomar aquele café amargo e quente. Quase uma metáfora dela, amargam insonsa, intonta.
Mantém aquela postura fria, intacta, disfarçada em mulher madura por trás da tela de LCD.
Cabelo ao lado, meio borrado, meio sem cor, meio sem jeito, meio feito ela: indefinido.
Batom vermelho na cara, salto alto nos pés, um cachecol no pescoço e o maldito café ao lado. Não tira os olhos das letras e as mãos do teclado. Suas unhas afiadas fazem um som quase estridente ao digitar as palavras que saem da sua mente conturbada, perplexa e amarga.
Ela e esse maldito café. Coitada, pensa que ele pode aquecer o coração dessa carcaça de gente.
Quem disse mesmo que ela tem um coração?
Apesar dos cafés e do delineador pretos que ela carrega, eu sei que ali existe sim um coração bobo como o das garotas que escrevem em seus diários e sonham com príncipe encantado. Diferente do que ela tenta provar, eu sei que ela também sente, feito a gente. E erra como todos os mortais.
E eu como bom fã dos mistérios, fui um desses erros. Eu diria que o maior erro de todos que ela já cometeu.
Um erro que a faz perder as noites de sono vendo o café esfumaçar noite a fora.
Ela abriu essa porcaria de coração que ela tem. Escancarou as portas do peito amargo que ela tem e jogou fora todo café. Ela foi ficando doce a medida como trancava as janelas e me pedia pra sair, segurando meus dedos.
Sou sua sucessão de erros e uma teoria trágica de arrependimentos que ela guarda na bolsa e mistura ao café que ela voltou a beber.
Ela continua vidrada em seus perfumes caros e roupas que procuram descrição, sempre disfarçando o que realmente ela esta sentindo. Vive olhando praquela droga de telefone esperando um sinal meu de que sinto falta de toda sua falta de coragem de rasgar o peito e assumir que me precisa. Coragem pra dizer que meu sorriso falta pra ela, que o som do meu piano ficou mudo e se transformou em lagrimas caídas ao chão. Mas ela não é capaz de assumir, que chora, que grita, que sente. Ela é madura , superficial e dura demais pra isso.
Ela era meu mundo, companheiro. Um mundo de ponta-cabeça, acinzentado, às avessas, amargo feito o café que ela depende pra acordar. Essa porcaria que deixa o coração dela preto e escuro.
Apesar dos pesares amigo, era meu! Meu mundo, vazio, oco e sem graça.
O mundo que vivo à procura em todas as cafeterias da cidade, à procura de um ser arrogante, controverso, estampando um sorriso desconfiado e aquele olhar de quem sabe que é dela que eu preciso pra viver. Porque eu sinto falta dos olhos ressaqueados de Capitu, da dependência do café amargo, das conversas de quem entende de tudo.
E ela que eu tento evitei que hoje procuro em todos os cafés que eu mando pro ralo. Ela vestida de seus saltos altos e batons vermelhos. Dona da verdade e de todos os assuntos da verdade. Ela dependente do café amargo e quente. Feito ela.


Danielle Cano

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